Banco Master: O que Aconteceu? História, Crescimento e Crise

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Banco Master: Ascensão, Estratégia e a Crise que Chocou o Sistema Financeiro

O Banco Master, até recentemente uma instituição financeira brasileira em rápido crescimento, entrou nos holofotes por sua trajetória ousada e, mais recentemente, pelas graves acusações de fraude que levaram à sua liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Conhecer sua história é essencial para entender riscos sistêmicos, regulação bancária e os limites entre inovação financeira e temeridade.

Origens e Transformação

O Banco Master tem origens antigas: sua história começou na década de 1970, com a Máxima Corretora de Títulos e Valores Mobiliários, fundada em 1974.
Em 1990, a corretora obteve autorização do Banco Central para atuar como instituição financeira, tornando-se o Banco Máxima, com foco em crédito imobiliário.
Em 2018, passou por uma grande reformulação societária, liderada pelo empresário Daniel Vorcaro, que impulsionou a mudança de nome para Banco Master e uma nova estratégia de crescimento.

Modelo de Negócios e Estratégia de Crescimento

Depois da reestruturação, o Master adotou uma estratégia agressiva de captação e expansão:

  • Captação: O banco atraía recursos por meio de CDBs (Certificados de Depósito Bancário) com taxas muito elevadas, bem acima da média de mercado.

  • Alocação de recursos: Parte expressiva desses recursos era investida em ativos de risco, como precatórios (títulos judiciais) e participações em empresas com dificuldades financeiras.

  • Aquisições: Em 2024, o Master adquiriu o Banco Voiter, trazendo mais experiência em operações estruturadas, e também comprou participação majoritária no Will Bank, banco digital, ampliando sua atuação no varejo.

  • Produtos para pessoa física: Além de crédito pessoal, o banco oferecia modalidades como o “Master Luz”, um empréstimo descontado na conta de luz, para tornar crédito mais acessível.

  • Serviços sofisticados: Por meio de sua divisão de banco de investimento, o Banco Master BI, a instituição prestava consultoria para fusões e aquisições, estruturação de capital e gestão de patrimônio para clientes de alta renda.

Em seu balanço de 2024, segundo dados oficiais, o banco registrou patrimônio líquido de R$ 4,7 bilhões, lucrou cerca de R$ 1 bilhão e tinha ativos totais na casa dos R$ 63 bilhões.

O Crescimento Arriscado e os Sinais de Alerta

Apesar do desempenho impressionante, a forma como o Master captava recursos gerava preocupação no mercado:

  • Seus CDBs ofereciam retornos de até 120% do CDI (ou ainda mais, segundo algumas fontes), o que despertava desconfiança sobre a sustentabilidade desse modelo.

  • A grande parte dos ativos nos quais investia era de baixa liquidez (como precatórios ou créditos judiciais), o que significa que, em momentos de estresse, seria difícil converter esses investimentos em caixa rapidamente.

  • Segundo reportagens, cerca de 34% do patrimônio seria composto por “créditos a receber” (direitos judiciais), o que difere bastante do perfil de crédito mais tradicional de um banco de atacado ou varejo.

  • A estratégia de crescimento via emissão de títulos de alto custo também fazia com que o banco dependesse fortemente de novas captações para honrar seus compromissos.

Esse modelo era visto por muitos analistas como agressivo demais, especialmente quando combinado com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para investidores — o que poderia aumentar o risco moral (moral hazard) se algo desse errado.

Escalada de Problemas e Investigação

A situação do Banco Master começou a azedar quando surgiram sinais de irregularidades. Segundo a imprensa, investigações apontavam para crimes de gestão fraudulenta, organização criminosa e emissão de títulos de crédito falsos. CNN Brasil+2CNN Brasil+2
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investigou aportes suspeitos em empresas sem capacidade econômica, além de indícios de uso de “laranjas” para inflar o patrimônio do banco.
Durante esse período, a estratégia de audácia e crescimento rapidamente se tornou um grande risco para a estabilidade do banco.

Liquidação Extrajudicial

Em novembro de 2025, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master. Agência Brasil+1
A decisão veio após uma investigação complexa (chamada “Operação Compliance Zero”), que apurava a emissão de títulos de crédito fraudulentos. Agência Brasil
Além disso, o dono do banco, Daniel Vorcaro, foi preso por ordem das autoridades em meio às apurações.
Com a liquidação, cerca de 12 milhões de clientes e mais de 500 funcionários foram impactados.

Impacto Sistêmico e Riscos para o FGC

A falência ou liquidação de um banco dificilmente é um evento isolado — especialmente quando o banco é tão conectado ao sistema de garantias (como o FGC). No caso do Master, havia temores concretos sobre o impacto no FGC, já que muitos depósitos ou aplicações estavam sob a garantia desse fundo.
Se o FGC tiver que arcar com grandes valores, isso pode afetar outros bancos e investidores que dependem do fundo para proteção em caso de insolvência.

Além disso, a situação do Master levantou discussões regulatórias: até que ponto o Banco Central e os reguladores devem permitir estratégias de captação altamente agressivas que dependem da proteção do FGC? O caso expôs “guerra de bastidores” entre bancos, fintechs e reguladores.

Tentativa de Venda e Propostas

Antes da liquidação, havia uma tentativa de resgate via estruturação societária. O BRB (Banco de Brasília) chegou a anunciar um acordo para comprar 49% das ações ordinárias do Master e 100% das preferenciais, totalizando 58% do capital, por um valor estimado de R$ 2 bilhões.
Porém, a operação enfrentou entraves jurídicos: um juiz chegou a bloquear a assinatura final do contrato.
Além disso, há negociações em curso para que o BTG Pactual adquira ativos remanescentes do Master, especialmente ativos mais “arriscados” que não foram incluídos na proposta com o BRB.

Lições e Reflexões

O caso do Banco Master pode ser analisado por diferentes prismas:

  1. Risco elevado vs retorno alto: A promessa de altos retornos (CDBs muito rentáveis) atrai investidores, mas quando isso se sustenta por meio de estratégias arriscadas e ativos ilíquidos, o potencial de colapso é grande.

  2. Regulação e responsabilidade: A participação do FGC em esquemas de captação agressiva levanta questões sobre o papel do regulador (Banco Central) e dos próprios bancos na gestão de riscos.

  3. Transparência institucional: Investidores de varejo muitas vezes não têm visão completa sobre a qualidade dos ativos que sustentam os produtos que compram — e crises como a do Master mostram o custo disso.

  4. Impacto social: A liquidação afetou milhões de clientes e centenas de funcionários — o que reforça que crises bancárias não são só “números”, mas envolvem vidas.

  5. Risco sistêmico: Um banco menor — relativamente médio —, mas bem conectado e com forte participação em produtos garantidos, pode representar risco para o sistema bancário mais amplo.

Conclusão

O Banco Master se tornou um símbolo de ambição financeira: com crescimento acelerado, oferta de aplicações altamente rentáveis e aquisições estratégicas, conquistou espaço no mercado brasileiro. No entanto, a estratégia de alto risco, combinada com suspeitas de irregularidades, acabou levando à sua derrocada.

A liquidação extrajudicial e a prisão de seu controlador são capítulos dramáticos, mas oferecem uma lição poderosa sobre os limites da expansão financeira sem cautela. Para o mercado, investidores e reguladores, o caso Master será lembrado como um alerta: nem sempre as oportunidades mais brilhantes são as mais seguras.